quinta-feira, agosto 09, 2012

Hábito.


Tem dia que a gente procura, claro. Hábito é uma das piores desgraças que o ser humano pode ter, e persegue a gente incessantemente até a gente conseguir romper de vez com ele. Você era a última pessoa que eu pensava antes que eu fosse dormir e a primeira que minha mente fazia questão de me apresentar assim que minha consciência era recobrada. Foi exatamente assim durante meses. Eu sempre migrava pro trabalho levando no banco do carona o medo de que essa sensação de necessidade perene da sua presença nunca fosse substituída por outra, ainda que ela fosse tão ridícula quanto essa, ou quanto você. Mas ainda existem dias - raros dias - nos quais eu me pego te procurando nas músicas que você cantava pra mim, e percebo o quão elas continuam lindas, mesmo depois de eu tê-lo desacoplado da melodia de cada uma delas. Que bom que em você habita essa capacidade de se ligar reversivelmente às coisas; seria drástico ter que jogá-las, todas elas, pela janela. Ainda hoje elas subexistem na minha playlist com o mínimo resquício de contaminação, o suficiente pra lembrar de você e pensar: "velho, foi massa!"; melhor antídoto que o tempo, realmente, não há. Passo o olho pelas minhas veias e artérias, e não encontro nada além daquilo que existe naturalmente ali: sangue e outras minúcias próprias dele. Você, enfim, vazou. Procuro nessa mente bagunçada, salpicada de algumas crises existenciais, quereres absurdos e bulas de remédios, mas por puro hábito, da mesma forma que eu procuro minha touca de banho no chão do meu quarto desarrumado, todas as vezes que decido entrar no banho. Mas se não a encontro, isso não me impede de me banhar - no máximo uns fios de cabelo molhados que meu secador resolve em minutos, e nisso consiste a semelhança com o fato de você andar sumido de mim. A diferença é que a touca de banho, eu quase sempre acho, mas você... você já quase não cabe mais em nenhum quase que minha vida resolva ditar...



~ Mari Teixeira ~ 

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