sexta-feira, junho 03, 2011

Quase 30.


Nunca escondi de ninguém que entrar na casa dos 30 me assusta da mesma forma que eu me assustava com o escuro quando era criança. Não sei o por quê. É dificil aceitar essa idéia de me tornar uma balzaquiana, assim, 'tão cedo', embora eu ande convicta que a maturidade dessa fase é muito boa, me faz enxergar o mundo, as pessoas, a vida [e tudo que passou] com outros olhos. Faz com que eu me entregue à vida de uma forma mais completa e leve.

Talvez todas as mudanças que aconteceram até aqui foram, justamente, pra me preparar pra entrar no rol das mulheres de 30 com uma cabeça de mulher de 30, afinal, experiência não é apenas o que acontece com a gente, mas o que a gente faz e como a gente se comporta diante do que acontece com a gente. Até aqui passei por muita coisa. Optei por não passar por outras. Fiz coisas que jurava de pé junto que nunca iria fazer e deixei de fazer outras que jurava que faria até o fim da vida. Chorei muito, molhei muita fronha. Sorri também, de doer a barriga. Tomei porre de tequila, de whisky e de vinho; foi preciso que eu passasse por isso pra poder acertar nas próximas doses. Perdi minha voz, depois a encontrei. Conheci dores fantasmas, perdi um dos maiores amores da minha vida (vô, sempre vou te amar), joguei vôlei na chuva e aprendi a dirigir. Fiz amizades. Desfiz outras. Pensei muito. Escrevi muito. Enfim, me conheci: foi um imenso prazer!

Enfrentei bancas de concurso, conheci várias pessoas maravilhosas e outras mil arrogantes, me perdi na mata em plena Chapada Diamantina, andei em meio a serpentes e até as manipulei. Ouvi silêncios que gritavam. Vi minha família ruir. Entendi que sexo é um lance bioquímico e o amor é um laço cujo nó não é regido por moléculas. Aprendi que depressão é doença, não tem nada haver com o diabo. Que o diabo e Deus também existem, que eles podem até nos influenciar em alguma coisa, mas no final, a decisão é nossa. Que somos fracos, bem mais fracos do que pensamos, e que escondemos nossas fraquezas por pura vaidade. Que a vida é agora. Que não dá pra se esquivar de tudo na vida: existem coisas pelas quais a gente tem que passar.

Tô na segunda faculdade, escrevi um livro [falta só publicar], casei e separei. Corri atrás do que me faz feliz. Sou bem resolvida na maioria dos aspectos da vida, com um número razoável de amigos de verdade e, até aqui, consigo conviver com minhas cólicas, minha miopia e com meu TOC. Me aceitei humana demais. Depois, me tornei levemente ácida. Arquivei muita coisa; não dá pra levar em conta tudo nessa vida. Ela fica insuportável. Não cabe tanto na mala dessa nossa viagem. Furei o meu bolso: precisava perder algumas coisas que não tinha coragem de jogar fora. Briguei feio com meu superego; devo frisar que ele ganhou quase todas, mas ultimamente, eu tenho conseguido colocar ele no chinelo. Mas dentre tantas derrotas, resolvi parar de me esconder do meu id. Rompi quase que definitivamente com sentimentos de culpa sem sentido. Aceitei muitas pessoas do jeito que elas são. Outras, ainda não consegui aceitar. E outras eu não quis aceitar mesmo, achei que não valia a pena.

Sofri de paixão. Mudei a cor do cabelo mil vezes: já fui loira, ruiva e morena de novo. Assisti o pôr-do-sol no Elevador Lacerda. Fiz terapia (e ainda faço). Me decepcionei e devo ter decepcionado também. Mas ainda sonho. Muito. Um sonho diferente. Eu sonho acordada, com os pés no chão da cerâmica gelada do meu quarto. Sonho com um filho, um closet cheinho de roupas e sapatos, e uma salinha cheinha de livros. Sonho com uma faxineira de segunda a segunda e um emprego que me aceite das 9 às 17hs. Com uma banheira de hidromassagem em casa e um show do Los Hermanos. E desejo. Muito também. Desejo equilíbrio. Saúde. Paz de espírito.

Ainda assim, entrar nessa década da vida não me deixa menos aflita. Na verdade, eu tenho só impressões dessa nova era que me aguarda. Ano que vem, então, depois que eu cruzar a linha de chegada, passo aqui pra contar. Por enquanto vou curtindo meus 29 anos [e meio]. Que não voltarão nunca mais.

14 comentários:

Arhetta disse...

se eu tivesse lido isso sem saber quem tinha escrito iria com certeza imaginar que foi vc.
é a sua cara;*
e o superego?!
rsrs
Beijos boneca!!

Verônica Barbosa disse...

Mary, o bacana de nossa vida é perceber quando e quanto crescemos a medida que o tempo passa, muito legal nós sermos capazes de perceber nossas limitações, fraquezas e nossa força também. Amei este texto e como já passei do 30, te digo ele chega e a gente nem percebe....kkkkk Beijo grande querida. Saudades.

Unknown disse...

Ai que texto lindo!
Será que com 30 eu vou estar assim?Tão bem resolvida?RS!
Gostei dos seus sonhos! São todos tão "possíveis", e são esses os que valem a pena!
Tenho também muuuito medo dos 30, mas tenho tb dos 25 (que estão quase me acompanhando), dos 26, 27...
Será que isso um dia passa? Acho q com 30, terei medo dos 35, afinal de contas os anos passam e os medos continuam, somos huamnos...humanos demais!

Igor Mascarenhas disse...

Seu texto me revela paz. A mais importante paz, a paz consigo mesmo. Só quem encherga a cor da paz ao se olher no espelho pode escrever um texto assim. Thomas Merton diz, antes de queremos espalhar a paz, precisamos estar em paz conosco mesmo. E além dos teus relatos de cúmplice virtual eu ganhei paz ao ler suas palavras. Obrigado e que venha o tempo.
Abraços

Carolina Braga disse...

Cruzar essa linha também me assusta horrores! Acho que mais que o escuro, pois ele, a gente sabe, só existe até acendermos uma pequena centelha de luz que seja. Quanto ao tempo... Ah, esse implacável!... Quanto a ele, não temos o menor controle. O que podemos fazer no máximo (que já é muito), é torná-lo inesquecível pros dias que virão e leves, para esses que ainda estamos vivendo. Muito bom o seu texto! Você só 'melhora' com o tempo, Mari. Beijo, paz e bem! Amém.

Conspicuamenteconspícua disse...

Mas crescemos quando cruzamos as linhas, mudamospara melhor e devemos tudo as escolhas que nos permitiram errar, acertar e modificar.

Belíssimo texto.

Bjo.

Pati Eça disse...

QUE TEXTO P.E.R.F.E.I.T.O...
Devo confessar que nunca me preocupei em passar dos 30, mas um dia desses, quando eu percebi que já tenho 31 e nem tudo na minha vida estava o jeito que eu queria fiquei um tanto perturbada. Porém ao refleti vi que ganhei e conquistei muita coisa até aqui e que as outras que ainda me faltam vou conquista agora com muito mais garra e maturidade (amadurecer é uma das coisas que os 30 nos traz).
Beijos Mari

Geórgia Cavalcante Carvalho disse...

a idade, não importa qual seja, não volta nunca. é preciso viver e aprender o que está ali, mostrando-se para nós.
não perca ou pule etapas.
apenas viva.
e o resto... bem, o resto, resolve-se.

Lu disse...

Mari, que emocionante! Me vi nessas linhas tantas vezes...rsrs Também tinha medo dos 30, mas agora quase com 29 me sinto tão melhor, mais madura, mais leve, mais agradável e muito mais feliz. Rumo aos 30!

reflexões e relevâncias disse...

Quando vc passar por ele vai entender e até quem sabe ter querido que ele viesse logo,a maturidade dos 30 faz bem a qualquer mulher!...srrsrsr

Lari disse...

Nossa, pensar nele me assusta um pouco... Mais se a gente for pensar nas opções... rsrsrs.
com fé em Deus a gente chega lá...
bjo

Amei o texto!

Gi Novais disse...

Por que será q essa parece uma preocupação unicamente feminina? será q eles tb não têm esse medo, ou fingem não ter? Completei hj os meus 30...e não estou numa condição q imaginei (lá na adolescência) q fosse estar qndo entrasse para a terceira década. É quase tudo diferente do q imaginei. E, embora eu esteja me sentindo muito bem hj, devo confessar: mudar d dezena realmente pesa e dá medo! òtimo texto tb...bjs

Pinbelaura disse...

Muito lindo mesmo amiga!

John Sanctus disse...

Desconhecia esse texto. Vejo q ele n foi escrito recente. Me fez lembrar de uma música de Vanessa da Matta "Meu Aniversário"...esse trecho eu queria dedicar a vc: "Hoje eu escolhi passar o dia cantando, de hoje em diante, eu juro felicidade a mim. Na saúde, na saúde, juventude, na velhice, vou pelos caminhos brandos, a minha proposta é boa, eu sei! De hoje em diante tudo se descomplicará, com um nariz de palhaço rirei de tudo que me fazia chorar. Cercada de bons amigos me protegerei. Numa mão bombons e sonhos, na outra abraços e parabéns". E ainda tem mais..."Quero paparicações no meu dia, por favor, brigadeiros, mantras, músicas, gente vibrando a favor. Vamos planejar um belo futuro pra logo mais! Dançar a noite toda. Fela Kuti, Benjor e Clara." Te amo!!!