sexta-feira, dezembro 03, 2010

Questionar.

"Uma vida não questionada não merece ser vivida."

(Platão)


Agora entendo [da minha forma] muita coisa. Aquela velha estória de que o governo não investe na educação para não criar seres pensantes, funciona em outras alas da vida também. A religião é uma delas. Antes de nos ensinarem a acreditar em Deus somos doutrinados a não questionar os acontecimentos da vida, os dogmas e as premissas que nos são anunciadas como "vontades" e "inspirações divinas", respectivamente. Eu realmente acredito que existam inspirações e desejos divinos, mas hoje eu penso diferente; penso que a grande maioria das tais inspirações não passam de conspirações humanas mesmo, e os desejos de Deus em relação a nós são sempre de bem estar e felicidade; nós que temos a mania de fingir não enxergar o melhor caminho e insistimos nos atalhos, ou, às vezes, nem é fingimento ou teimosia, é distração mesmo, e quando menos esperamos percebemos que pegamos a trilha errada . No final das contas, Deus não tem nada haver com nossas escolhas e muito menos com as consequências delas. Não tem nada haver com os nossos excessos, com nossa falta de prudência nem com nossa eterna imaturidade. Longe de estar possuida por esse racionalismo barato que existe por aí, sejamos, no mínimo, lógicos: muita coisa anunciada e enfiada na nossa cabeça contraria a lógica do próprio amor de Deus que nos é pregado. Naquele Deus carrasco e castigador que um dia eu ousei chamar de "primeiro amor", não acredito mais, e chego a duvidar que um dia eu o tenha amado; nunca vi alguém amar algo que o amedronta. Depois que comecei a questionar algumas coisas, independente de achar ou não as respostas, nasceu em mim a noção de outra figura divina: um Deus inatingível, que, se me amou até o extremo da cruz, não me condenaria por causa dos limites da minha condição humana. Um Deus que não pede nada em troca. Que leva em conta meus limites. Um Deus essencialmente amor, que me entende mais do que ninguém, simplesmente porque também me conhece mais do que ninguém. E que, como diz Fábio de Melo, não deve estar "muito preocupado com esse monte de coisa que a gente costuma achar que o agrada". Eu acho assim também.

3 comentários:

Ramon Luduvico disse...

Eu acho assim tb...Q lindo....Como diz Rubem Alves, nem tem como acreditar em um Deus q fez o inferno p vê os seus perecer e depois chama-Lo de Deus de amor...O amor de Deus transpassa essa lógica mesquinha do homem...È muita misericordia q a gente inventa esse medo p ñ perceber a liberdade q nos prende a Ele...

Pati Eça disse...

Mari esse texto tá fabuloso. É assim mesmo, também creio que Deus vai além da limitação e vontade alheia.

Beijos

*Lu* disse...

"No final das contas, Deus não tem nada haver com nossas escolhas e muito menos com as consequências delas. Não tem nada haver com os nossos excessos, com nossa falta de prudência nem com nossa eterna imaturidade."
Também concordo com você. É muito fácil cruzar os braços e depois colocar a culpa em Deus quando as coisas não acontecem na nossa vida. É aquela história: Deus move o mundo inteiro naquilo que não somos capazes de fazer, mas não move uma palha naquilo que podemos fazer. Não acredito que Deus castiga, como você disse nós é que fazemos escolhas erradas e pegamos o caminho que achamos mais fácil e conveniente para nós.