sexta-feira, agosto 30, 2024

Estamos certos.

Eu ainda estremeço quando você se manifesta. E isso independe do peso das manifestações, que, ultimamente, se volatilizam num piscar de olhos de tão rápidas que são. Eu passo os dias e as semanas tentando te perder por aí, te guardando no bolso furado da minha calça jeans preferida, mas quando me deparo com teu simples oi, tenho cada vez mais certeza que você está incrustado de forma permanente na minha alma. Me pesa ter que assumir isso, mas sou refém do meu fascínio por você... Isso só prova que o tempo e a distância carecem da inabilidade de destruir aquilo que um dia nós dois julgamos ser eterno. É, meu amor, parece que nós estamos certos..

quinta-feira, agosto 29, 2024

Quase cinco meses.




Acordei tonta de sono. Desbloqueei o celular e olhei o calendário. Já são quase cinco meses sem você. Eu já tinha me acostumado a viver os meus dias imersa na tua ausência, por mais vazios que eles fossem, até você reaparecer e me fazer voltar à estaca zero. A ferida da saudade foi exposta novamente, e, de certa forma, analgesiada, quase curada... só faltou seu corpo no meu. Seu bom dia diário, sua preocupação, seu cuidado e atenção, suas declarações, juras e promessas me inundaram de felicidade e esperança. Mas, do nada, você desapareceu e me deixou, de novo, com os dias vazios e os braços cheios, ninando algumas palavras, um vácuo infinito, um rio de angústia e ansiedade, e milhões de porquês, além de um amor que sangra e agoniza na praça pública da minha alma diante da sua indecisão. 

Pisco os olhos e a noite chega. O tempo tem passado rápido, mas incompetente. Ele pode atropelar os dias, as horas, os segundos, mas é incapaz de levar você pra longe de mim. Nas minhas andanças por aí acabei por beijar outras bocas, toquei outros corpos, mas é como se eu estivesse anestesiada... os olhos não brilham, as pupilas não dilatam, o coração não dispara, a pele não esquenta, os pelos não eriçam, o desejo não acende, o corpo não implora e muito menos aceita outro corpo... Por tudo isso, resolvi deixar a teimosia de lado e desisti de buscar vislumbres de você por aí.

Me afogo em um oceano de indagações cujas respostas jazem no silêncio do teu sumiço. Uma delas é sobre quando mesmo você deixará de ser meu primeiro e último pensamento do dia, e se um dia deixará. Tenho a forte impressão que não. Há determinadas faltas irresolvíveis, e resta-nos empurrá-las pra um canto qualquer da memória e apenas aprender a conviver com elas.


terça-feira, agosto 20, 2024

Sete minutos.


Li em algum lugar que, após a morte, o cérebro humano ainda funciona por sete minutos, apenas para lembrar as melhores memórias, e depois se apaga. Quisera eu que o definitivo fechar dos meus olhos, o findar das minhas funções vitais e o cessar das minhas sinapses te sepultassem junto ao meu corpo inerte e gelado,  te decompusesse pelos vermes, te sucumbisse às profundezas da terra, e te fizesse desaparecer ante o véu do tempo. Quisera que o meu sono te tirasse temporariamente da minha tela mental, que meus sonhos te excluíssem de suas cenas, que meu pensamento se distraísse pelo menos um segundo da tua imagem que baila nitidamente nele. Quisera, agora, descansar no teu corpo tão lindo e tão meu, que nem a vida nem a morte podem de mim te arrancar. Quisera que a generosidade da vida te trouxesse de volta pra mim de presente, embalado num papel de futuro, pichado dos nossos  momentos que se negam a ficar no passado. Quisera apenas mais sete minutos com você... 

Li em algum lugar e talvez seja verdade, não sei. Contudo, ratifico sem medo de errar, tenha certeza que, na minha derradeira hora, serão teus, não só estes 7 minutos, mas o resto de toda a minha eternidade...

domingo, agosto 18, 2024

Eu te encontro.

Te amar de longe é como estar ancorada no meio do espaço sideral. Não escuto som algum, não vejo nada. Tudo está escuro, tudo é incerto, exceto pelos lampejos intermitentes das tuas fantasmagóricas aparições que, ainda assim, cintilam há milhões de anos-luz de mim, lampejos estes que tanto esperançam quanto maltratam. Mesmo te sentindo pulsar dentro de mim o tempo inteiro, não te alcanço, e não poder te tocar me faz sentir meu corpo se decompondo em vida. Mesmo te sentindo correr por todas as minhas veias e artérias e observando ansiosa as tuas paradas na minha mente e no meu coração, te sinto escapar por entre meus dedos a cada vez que, do nada, desarvoras... cada vez que me submetes a isso eu sinto como se eu estivesse te perdendo pra sempre, e eu já perdi as contas das vezes que essa sensação me tomou em forma de um desespero profundo, que me afogou numa dor tão aguda que sou incapaz de denominar ou mensurar. Você não sai de mim. Vive na minha pele, se esconde nos meus poros, levanta arrepios abruptos, descompassa meu coração e provoca sensações involuntárias e indescritíveis. E por mais que eu queira te perder de mim, não adianta; longe ou perto, em ciscos ou em cacos maiores, eu te encontro. E se não te encontro, eu te sinto. Porque se é verdade que o que os olhos não vêem o coração não sente, posso afirmar que o que o coração sente, os olhos conseguem ver. Por mais que me digas que és meu e eu sou tua, que me amas sem medida e pra toda a eternidade, o que faço eu apenas com o arcabouço dessas palavras? O que eu faço com toda a intensidade desse nosso sentir que cabe, sem folgas, na eternidade dos dias os quais atravesso? O tempo inteiro me sinto sugada pelo vácuo da tua ausência e asfixiada pela saudade que ela me imprime. Só sei que se antes o meu amor por ti beirava o infinito, hoje suplanta todo ele...