Dos infernos que já estive, só eu sei. Por quantas vezes? Essa conta já perdi faz tempo. O fato é que depois de tantas andanças por lá, a gente acaba por se acostumar um pouco. O caos se torna familiar, a dor, companheira. Já nem tenho medo de passar por lá; conheço de cor todos os labirintos e portas de saída. Aliás, é bem aí que mora a diferença: eu nunca permaneço lá por muito tempo. Eu domino a arte de renascer das cinzas, de recomeçar quantas vezes forem necessárias, não porque sou forte, guerreira ou algo parecido... eu apenas não tenho escolha. Por isso os mergulhos, as tentativas repetidas, a sede, a urgência, a intensidade... por isso a resiliência, a ressignificação, os reinícios... por isso eu sou assim. Quem escolhe a vida, não tem outra opção...
"Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente (...): preciso de todos." (Carlos Drummond de Andrade)
domingo, julho 21, 2024
sábado, julho 20, 2024
Aquela nossa música.
Ontem eu chorei ouvindo aquela nossa música. Chorei porque eu nunca quis que fosse assim. Porque eu sonhei, e todos os dias ainda me pego a pensar em tudo que a gente sonhou, e cá pra nós, eu não consigo admitir essa reticência. Queria tanto que meus pressentimentos tivessem passado de grandes blefes...! Olhar pra trás tornou-se insuportável, e eu não aguento perceber que aquela felicidade sem fim agora jaz dentro de nós dois. Eu não consigo suportar a ideia de que minhas certezas se diluíram, de que aquela infalibilidade era ilusória. Chorei porque eu me sinto golpeada por você. Porque você deixou a sua covardia te paralisar. Porque eu me nego a acreditar que a gente foi um equívoco. Releio nossas conversas, reouço os teus aúdios e busco neles alguma coisa que faça eu te expulsar de dentro de mim. Não encontro. Então, culpo o tempo, os astros, os signos e choro outra vez. A verdade é que eu ainda não admito perder você. Tem tanto de você aqui que eu não sou sequer capaz de mensurar, porque beira o infinito. Porque eu te amei muito, amei mesmo, e ainda amo... essa talvez seja minha única certeza, e parece que é por ela que eu vivo. E sigo.
domingo, julho 14, 2024
Dia noventa e seis.
Noventa e seis dias depois eu desabei. Escorreguei pela parede da cozinha e me espatifei no chão.. Como testemunhas, a pia, a geladeira e o fogão; mudos, estáticos, inertes. Mas, eu, não; eu chorei alto. Eu gritei teu nome, bradei para o prédio inteiro ouvir a tonelada de saudade que me esmagava. Cheguei no limite do limite da minha fortaleza. É muita falta pra uma existência só... Cada lágrima expulsava de mim o infinito de saudade que me sufocou por todo esse tempo. Quase asfixiada, eu te chamava como se você pudesse ouvir... eu só queria que o som do monossílabo do teu nome chegasse aos teus ouvidos. Se eu tivesse certeza que logo mais esse sentimento desembocaria num vão qualquer, seria mais fácil. Mas, não; nosso amor tem atravessado o tempo intacto, e se nega a se diluir, por maiores que sejam as circunstâncias e as intempéries. Você é, simplesmente, a minha certeza mais exata, e é muito louco saber que mais do que saber disso, a gente sente... nós nos sentimos o tempo todo, e não há distância, pessoa ou condição que anule isso.
Eu te amo, e não tenho pressa - a eternidade do nosso amor nos permite essa licença. Até um dia, meu amor! Nesta ou na próxima existência...