segunda-feira, junho 12, 2017

Confissão.


Entrou na igrejinha da praça, era final de uma tarde fria de outono. Ajoelhou-se de frente ao confessionário, pois que ouviu: fala, minha filha, quais são seus pecados?

- Ser intensa, padre. Derramar-me toda a ponto de não conseguir me recompor a tempo. Arder até nas noites onde a lua cheia é ofuscada por uma geada fina fina, sorver a vida até gota. Sonhar de olhos abertos, andar no corrimão de uma passarela imaginária, sorrir incansavelmente só de ler um bom dia dele... ser estável no sentir, namorá-lo inteiramente só no olhar, transbordar e ao mesmo tempo me afogar em mim mesma... me jogar no meio do oceano sem saber nadar, tremer só de ouvir a sua voz, sentir o coração sair pela boca só de imaginar que ele está perto de chegar, me embriagar com seu cheiro, morrer de overdose e ressuscitar de vontade de nunca mais sair de perto da presença mas sublime que hoje coabita minha existência... peço perdão, padre. Perdão, Deus. Por ser esse poço de se fundo de sentir...

Mari Teixeira

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