
Tenho me surpreendido comigo mesma. Determinadas coisas, sobretudo sentimentos e sensações ruins, têm permanecido em mim durante muito pouco tempo. Aliás, permita-me usar o superlativo: durante pouquíssimo tempo. Uma tempestade, um furacão, uma tormenta que eu pensei ser sem fim. Uma enxurrada que me arrastou, me sugou para o fundo de um poço e quase me afogou. Uma dor aguda, funda, que talvez eu nunca tenha sentido igual. Uma dor que nem tem nome, de tão dolorosa [perdoe-me a hipérbole... mas hoje estou um tanto quanto exagerada!]. Uma dor de alma que de tão grande e de tão intensa não coube em si, nem coube na eternidade da minha alma, e acabou por ressoar pelo corpo, causando uma agonia física angustiante. Entretanto, o mais interessante foi perceber que essa dor tão lancinante me custou apenas duas madrugadas em claro. Optei pelo perdão. Gritei, xinguei, chorei... vomitei tudo que havia de ruim dentro de mim, tudo que havia apodrecido. Lancei fora... já bastam as tralhas do passado que me são tão pesadas, e que não consigo tirar de dentro de mim. Aliás, descobri que perdoar envolve muito mais coisas do que eu pensava; envolve renúncia de si, envolve quebra de orgulho; a gente tem que lançar fora o egoísmo e recalibrar a nossa balança interior que indica o que vale e o que não vale a pena. Mas, sobretudo, requer decisão. Hoje consigo lembrar de tudo sem dor. Estou em paz. Acreditem, eu nunca achei que isso fosse possível. Mas eu não me engano; essa força veio do Deus que habita em mim. E me sustenta. E me faz prosseguir. E dEle não me aparta. Nunca.
P.S. (Um agradecimento especial ao Pe. Fábio de Melo, que com sua inspiração divina me ensinou que "não há significado no sofrimento senão na relação com a redenção que ele nos traz. Sofrimento por ele mesmo não serve pra nada, é masoquismo. Sofrimento na perspectiva da superação dos limites é sabedoria." Se não fosse ele, confesso, teria sido bem mais difícil...)