quarta-feira, março 09, 2011

A cura.


Só se cure de você no extremo do necessário. Não se jogue pela janela assim, em vão. Tem que valer o preço de se perder. Tem que superar o agudo da dor fantasma, a angústia perene do escuro e o gosto salobro de cada lágrima, mas também superar a delícia de se sentir em si. Só se cure de você se o retorno for inevitável. Se o caminho foi o errado, se o acaso te sequestrou e anda se negando em te devolver. Não tenha medo, mesmo que enfrente o deserto das palavras e das rimas, das emoções e das pessoas. Porque um dia tudo volta, qual um ciclo sem fim que, vez ou outra se tangencia pra formar outro, e outro, e outros círculos de ciclos infinitos. E se por acaso não voltar, virão outras emoções, outras pessoas, outras palavras e outros ciclos também. Ando me curando e ciclando por aí. Outrora vivia por aqui, descrevendo minhas dores, meus pudores, amores e desamores. Tinha as pontas dos dedos e da alma em carne viva; escrevia para repassar a dor e vagar espaço para que outras tomassem lugar. Ainda tenho dores; é que elas também ciclam. Entretanto, tenho sido forçada a lidar com elas engolindo diariamente o antídoto que me fornece sufrágio temporário para tal. Talvez, um dia, conseguirei por mim mesma. Quando, enfim, me curar de mim.

5 comentários:

Verônica Barbosa disse...

"Agora ainda tenho dores; é que elas também ciclam."

Agente aprende com aquilo que nos permitimos viver...belo texto. beijos!

Igor Mascarenhas disse...

Já passei por esse momento e não dúvido que irei passar novamente, pq vivo nestes ciclos...
Mas vamos vivendo, curando, machucando e caminhando neste ciclo.

Abraços e beijos minha cúmplice.

Marina disse...

Ah e quanto ao post... SIMPLISMENTE INCRIVEL!! Estou passando por essa fase também de: enfrentar o deserto das palavras e das rimas, das emoções e das pessoas... e esse deserto da um medo danado... mas é uma fase necessária para se descobrir,para se encontrar e talvez descobrir um pouco do que se é...

"Tinha as pontas dos dedos e da alma em carne viva; escrevia para repassar a dor e vagar espaço para que outras tomassem lugar."

é acho que no fundo todos que escrevem escrevem para tirar de si um sentimento que não cabe mais no peito... eu pelo menos escrevo por isso...

Um livro que tem me ajudado muito nesse processo de se descobrir é "O vendedor de Sonhos- o chamado" é uma ficção que mexe nas entrantas mais feridas do ser... Se tiver como vale a pena ler!

Paz e Bem
Mari

Pati Eça disse...

Que texto belo Mari.
Encantador e pra mim cheio de esperanças, suas palavras hoje abasteceram meu coração. Obrigado.
Ah.... Eu tava sentindo falta dos seus posts e também dos seus comentários.
Beijos

Heat disse...

Deve ser igual querer ferias de si mesmo...