sexta-feira, novembro 02, 2012

Pré-epitáfio.




"A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante. Você senta para jantar, e aquela vida que você conhecia acaba de repente..." 

(Inês pedrosa)

É, a gente acaba. Que nem arroz, feijão e farinha acabam do final do mês. Que nem vela que queima a partir do momento que é acesa, a gente começa a morrer no dia que nasce. A gente acaba, sim. Num passe de mágica, de uma hora pra outra. A gente acaba. Finda. Que nem novela, que nem história em quadrinhos. Que nem os anos, os meses, os dias. Dissipa. De repente. Igual fumaça, cheiro de perfume ou gás. A gente dissolve. Tal qual papel na água, açúcar no café. 

É, um dia a gente se apaga, igual lâmpada, a vela. É o anoitecer da nossa existência, o fenecer da nossa história. A gente acaba mesmo. E não tem data certa. Pode até ser agora ou daqui há cinquenta anos. Esse dia a gente não sabe. Mas, mesmo assim, insistimos em passar pela vida como se ela fosse eterna ou como se pudéssemos predeterminar o nosso tempo aqui. Como se fôssemos senhores dele, de nós mesmos, da vida dos outros... do bem e do mal. A gente se acha, se sente. A gente tem um quintal bem grande dentro de si onde cultiva discórdia, orgulho, egoísmo, inveja e arrogância. E joga fora as sementes do amor, da concórdia, da paz. Valoriza mais as coisas que as pessoas. Perde tempo com coisas tolas, discussões banais, hábitos imbecis. Briga com o outro mais do que o ama. Grita com ele mais do que demonstra afeição. 

A gente não pisa no chão, não olha nos olhos do outro, nega uma esmola, um sorriso, um olhar, a presença, a solidariedade, o abraço. A gente sonha tanto, e esquece de viver o hoje. A gente se acha melhor que o outro, mais bonito, mais bem sucedido, mais inteligente, mais isso, mais aquilo. A gente amontoa tesouros aqui na terra, coisas que a gente nunca usa, nem doa, nem nada. A gente se enche de roupa, de sapato, de dinheiro... se empanturra de comida, trabalha 24hs sem parar. Vê a vida passar, escapar por entre os dedos. E um belo dia, daqueles bem ensolarados, com borboletas voando e pássaros cantando, no auge de tudo, bem quando a gente tinha planos de mestrado e doutorado, de ter filhos ou de comprar uma casa na praia, planos de natal e ano novo, bem nesse dia surge, na partitura da vida, uma pausa eterna. Imprevisível. Irremediável. Pra quem fica, insuportável. E a gente morre. Acaba. Termina. Pra nunca mais.

2 comentários:

Verônica Barbosa disse...

"mesmo assim, insistimos em passar pela vida como se ela fosse eterna ou como se pudéssemos predeterminar o nosso tempo aqui. "
Verdade, e perdemos tanto da preciosidade do TEMPO PRESENTE, como se pudessemos tê-lo para sempre...
amei este texto. Estava com saudades...bjs

Lari disse...

Pura verdade, muitas vezes nos ocupamos de tantas coisas banais que a vida passa e a gente nem sente.
:(