
Dentre todas as bem aventuranças esta é, sem dúvida, aquela que mais me emociona, a que mais me chama atenção. Na íntegra, vamos encontrar um complemento que suplanta toda a possível felicidade que pode vir a ser encontrada pelos misericordiosos:
"... porque alcançarão misericórdia." (Mt 5, 7)
Como já é sabido por aqueles que acompanham meus posts neste humilde blog desde o início, tenho vivido um intenso processo de descoberta do meu eu enquanto humana. Deus usou e usa o Pe. Fábio de Melo para poder me abrir os olhos dia a dia, seja através de suas músicas, seus testemunhos, suas palavras, seus escritos, e até de suas lágrimas. Um dos grandes aprendizados desse processo vem de uma de suas músicas; lembro-me de que, quando a escutei pela primeira vez meu coração deu pulos. Era eu, você, e tantos outros, cantados pela voz de um também "humano demais". Eis o trecho:
"Deus me entregou bem mais do que mereço
Talvez seja por isso que eu me cobre um pouco mais
Não que eu não seja capaz, mas às vezes é difícil
Nem sempre sei fazer o bem que eu desejo
E às vezes eu me vejo me enganando sempre mais
Não que eu não queira acertar, mas nem sempre é possível...
... Humano eu sou assim, virtudes e limites..."
Pe. Fábio me fez olhar para minha humanidade, para as minhas virtudes, mas, sobretudo, me fez aceitar os meus limites, já que eu os escondia de todos como se fosse algo vergonhoso, e vivia alimentando um processo de culpa maior que tudo que até, lá no fundo, prejudicava a minha relação com Deus. Ao mesmo tempo ele me fez compreender que todos esses limites que eu ocultava de todos [principalmente de mim] podiam ser usados para me fazer crescer.
Eu amo o trecho da Bíblia que narra o encontro de Jesus com Madalena. na minha opinião, é o mais belo de todo o livro sagrado. Imagino a forma misericordiosa com a qual Jesus olhou para ela, depois que todos foram embora. Uma forma ímpar e soberana, capaz de apagar o passado do Seu coração e mudar a vida daquela mulher. Misericórdia não é sinônimo de omissão. Jesus não passou a mão pela cabeça dela. Nem perguntou porque ela vivia aquela vida. Tampouco ironizou, ameaçou, brigou... não! Ele a compreendeu e a amou mesmo sabendo que sua forma de levar a vida, além de indigna, era contra a lei de Moisés. E em poucas palavras conquistou-a para sempre: "...eu também não te condeno. Vá, e não peques mais".
Essa é a verdade que Jesus sempre pregou, mas que acaba ficando subentendida para algumas pessoas, porque é mais fácil entender a dinâmica das palavras do Mestre como um ultimato ao inferno. Jesus é o mestre da misericórdia. Ele não condena. Ele não pode condenar. Seria contraditório. Ele só sabe amar.
Confesso aqui, mais uma vez, que depois tanto tempo de caminhada em Deus, somente há pouco mais de um ano vim entender o trecho-tema deste post e a lutar para vivê-lo. Não apenas pela promessa que me é garantida. Mas por uma questão de justiça. Não é justo que eu, feita da mesma natureza do meu irmão, potencialmente vulnerável a cometer todos os mesmos erros e acertos que ele, venha a condená-lo. Não é justo que eu traga consigo a ousadia de achar que os meus pecados são menores que os dele. Injusto porque apenas Deus conhece o nosso coração e nossas intenções.
Retomo o trecho: "felizes os misericordiosos...". Felizes os que lançam um olhar de amor sobre o outro. Felizes os que conseguem sentir a misericórdia pulsar dentro do seu coração diante de um irmão carente, doente, infeliz, ferido de alma e de corpo. Felizes os que conseguem identificar Jesus nestes, que sempre são excluídos, que nunca são olhados nos olhos, que nunca são acolhidos, que são banidos das lojas, dos restaurantes, dos altares e dos bancos das igrejas. Feliz é você, porque está começando a entender e a viver como Jesus! Bem aventurado, seu coração está andando no caminho que conduz à semelhança com o coração do Cristo! Só quem já mergulhou no rio da misericórdia de Deus, quando tantos te condenavam, consegue alcançar a graça de ser um misericordioso. Estejamos atentos às oportunidades que Deus nos concede a fim de exercitarmos nossa misericórdia. Sejamos, pois, misericordiosos. Nunca se sabe o dia em que um de nossos limites nos assaltará...
Paz e bem!
Marianne