sábado, junho 01, 2024

Medo.


Eu digo pra todo mundo que eu não consigo te esquecer, mas a verdade é que eu tenho medo de te esquecer. Medo de aprender a viver sem você, abrir a porta da minha vida e dar de cara comigo mesma. Medo de romper o último e único elo que ainda nos mantém: a dor. Mas, maior ainda, é o medo de derrubar minha ilusão do trigésimo andar e assistir a morte agonizante, prematura e trágica do nosso amor. Medo de me cortar com os cacos dos sonhos que construí. 
De te exonerar de vez e me ver perdida, sem combustível para alimentar esse vulcão de emoções que erupciona cada vez que que você se manifesta, perto ou longe, e que eu julgo ser meu oxigênio de viver... De abrir outra ferida que, mesmo que seja menor do que aquele talho que você deixou no meu coração, possa vir a sangrar mais e mais. De me livrar da sensação de vida que essa paixão me proporciona, ainda que você não esteja mais aqui. De me levantar da zona de conforto na qual a ilusão me nina, de experimentar a sensação de vácuo que o nada me traz. Faz tanto tempo que eu ando carregando você dentro de mim, mas tenho tanto medo de que doa muito mais te parir do que viver suportando infinitas e lancinantes contrações durante a vida inteira, que eu não só estou fechando as pernas: estou fechando meu coração e meus olhos, estou fechando minha vida pra qualquer sentimento que eu possa vir a gestar - e nem te odiar eu consigo. Eu tenho medo de me deparar com o vazio que, além daqueles que eu já tenho, você me deixou de herança. 

Os dias passam e mesmo desejando muito, eu tenho optado por fugir de saber de você, de ouvir da sua vida, simplesmente porque eu prefiro manter intacto aquele cenário que a intensidade dos nossos momentos ergueu bem no centro da minha memória. Então eu escrevo centenas de milhares de linhas, eu brinco com as palavras ao mesmo tempo que brigo com cada uma delas. Eu preciso me derramar - é a minha forma  de lidar com a tua ausência tão presente. Discuto todos os dias com o tempo: como pode ele demorar tanto pra te trazer pra mim e ser tão rápido em te levar? Pausa para um sorrisinho de canto de boca: é impossível pensar em você sem rebobinar alguma cena do nosso filme. 

Os dias passam, e aquela certeza de que os dias idos poderiam regressar em forma de um novo presente anda cada vez mais distante. Já não nos vemos, nem nos ouvimos... não nos falamos. Até quando, unidos apenas pelo fio invisível do nosso amor, suportaremos?