Eu escolho velejar em águas mansas, brandas, porque eu mereço a calmaria, a exclusividade, a prioridade. Eu sou cara, eu sou rara. Só me tem quem pode e quem tem culhões para tal. Nunca vivi na coluna d'água da vida, o cálido me causa ânsias de vômito, o tédio me deprime, as indecisões me irritam, eu sou intensa, e não me permito receber menos do que mereço. Minha vida não cabe em taças pela metade: se assim for, eu entorno todas e as quebro, por mais delicioso que seja o conteúdo, por mais lágrimas que isso me custe. Prefiro o nada à metade de algo, ou principalmente, de alguém. Se quiser venha: o tanto de espaço que tem na minha vida, na minha alma, no meu coração consegue abarcar tudinho, sem sobras. Mas, venha pleno, sem arestas, sem afluentes, sem pendências ou confusões. E quanto às migalhas, mantenha-as com quem acha que sobrevive e se conforma com elas, porque eu sou uma alma imensa e sedenta demais para me contentar com coisas tão minúsculas, rasas e líquidas. E cresce um pouco; quem sabe um dia você, enfim, caiba em mim.
Leve [Mente] Ácida
"Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente (...): preciso de todos." (Carlos Drummond de Andrade)
quarta-feira, maio 15, 2024
sexta-feira, maio 10, 2024
O tal click.
Quando a gente se deita e se enrosca, eu ouço o click do encaixe perfeito do meu corpo no seu. Cada milímetro da minha pele em cada milímetro da sua. Mas, pra mim, toda essa proximidade ainda é pouco. Se eu pudesse, me fundia a você, tornando-nos fisicamente o que já somos espiritualmente: um só.
Quando a gente se toca, os meus pelos se eriçam, a minha boca te pede, minha língua saliva, minha calcinha se molha e meu corpo te implora... e a gente se pega numa deliciosa dança de amor e desejo como se fôssemos duas taças a tilintar num brinde de duas almas que se amam mais que tudo...
Quando você invade meu corpo, eu sinto nossas almas se tocarem, e eu só consigo pedir a Deus que o tempo estacione indeterminadamente... te ter em mim como hóspede me plenifica, ser sua mulher me transborda.
Quando você repousa o cansaço do seu gozo no meu peito, eu me sinto a mulher mais feliz que o universo pode permitir existir... eu ratifico que sou sua, e sempre serei... o peso do teu corpo no meu me enternece e por vezes eu me pego desacreditada que somos uma realidade até sentir teu coração batendo forte por sobre o meu e entender que sim, nós existimos e somos um do outro. Delícia ter teu cheiro impregnado em mim, amor meu. Azar - puro azar - de quem nos perdeu. Feliz, por meu sorriso ter a companhia do seu...
quinta-feira, maio 09, 2024
Meu vício agora.
Você é a minha droga. Um vício de se ver e de sentir. Sua boca, meu oásis. Seu cheiro, meu ar. Sua voz, minha música preferida. Seu olhar, meu cais. Seu bíceps, meu travesseiro. Pernas enroscadas, respirações sincronizadas, batimentos cardíacos rítmicos. Tudo isso envolvido numa segurança que ninguém nesse mundo conseguiu me passar até hoje mas, que, como num passe de mágica foi quebrada em pedacinhos tão minúsculos que eu não sei se consigo mais colar. Por tantas vezes despertei no meio da noite como quem desperta de um sonho, e me punha a te olhar, sem acreditar que tinha conseguido caber tão perfeitamente nas dimensões do seu abraço. Era tanta magnitude e urgência naquela nossa forma desesperada de amar, que a impressão era a de que o mundo iria acabar no instante seguinte à pausa de cada expiração nossa, e por isso eu me apressava em sorver daqueles instantes o máximo do que podia. E assim o fiz. Você, por tantas vezes, foi meu antídoto também, não se engane. Mas, hoje, não passa de um veneno chamado saudade. Finalizo com doses mansas de vontade de te ver e te sentir novamente.
terça-feira, maio 07, 2024
Ao te ver passar.
Navegando por aí, me deparei com tua figura translúcida e vívida, sorrindo litros para uma câmera qualquer. Você, tão lindo, caminhava por entre o verde das folhas, e brilhava tanto que eu posso apostar que, junto ao astro rei, você também fotossintetizava sem pestanejar... Instantaneamente, meu coração, aos pulos, gritou pelo teu. Minha pupila dilatou ao te ver passar por ela. Meu peito fez menção de explodir. Meu corpo estremeceu e eu senti o eriçar de absolutamente todos os meus pelos. Por alguns segundos, senti minha respiração parar e me indaguei: então é assim que se morre de amor? Todas as reminiscências daquilo que vivemos saltaram diante dos meus olhos como um longa dos anos vinte: tudo em branco e preto, como a minha vida agora. E porque não dizer a nossa? Digo isto porque estou certa de que o tempo passa, mas nada do que vivemos consegue passar junto com ele: nosso amor fica - e há em mim a certeza que você sente isso também. Fica, por mais intempéries a que ele esteja subjugado. Fica, por mais que o medo e o orgulho berrem. Fica, por mais que a distância esbraveje o contrário. Por isso sempre nos conjugamos no presente... nós somos, e isso é e sempre será inquestionável. O nosso amor é e sempre será, porque, por mais que o tempo tente argumentar, ele consegue atravessá-lo intacto e infalível. Supremo. Impávido. E eterno.
quarta-feira, maio 01, 2024
Luto por um amor que não morreu.
terça-feira, abril 30, 2024
Talvez.
Foi lindo porque era a gente... e não há dúvida sobre isso. E nunca mais será tão perfeito, tão mágico, tão imenso, tão intenso, tão tudo... simplesmente porque não seremos mais nós...
Talvez nos procuremos em bocas, peitos, cheiros e olhares outros, mas nunca nos encontraremos, porque nossa história se imortalizou nos momentos únicos e inéditos que nós protagonizamos. Nós. Apenas nós. Únicos. Irrepetíveis. Tão loucos e ao mesmo tempo tão impérfidos... nós... morando eternamente naqueles segundos impassíveis de serem apagados, substituídos ou sequer superados.
Talvez encontremos outros abraços, outros beijos, outros sexos, outros corpos... e quando nos despirmos de nossas roupas diante deles, nossa retina se negará a fotografar coisa alguma, pela total falta de sentido que isso fará... eles nos serão sempre estranhos, e no breu do fechar das nossas pálpebras enxergaremos apenas um ao outro, encerrados na memória perene que impede que um amor da magnitude do nosso caia em meio ao vão de um vácuo qualquer.
Talvez sigamos caminhos diferentes mas é certo que em algum momento da eternidade eles se cruzarão em um único novamente; almas afins estão destinadas a se encontrarem em algum momento, e essa é a razão pela qual sinto paz, mesmo estrangulada de saudade.
A carruagem do tempo não para, e não há como saltarmos com ela em movimento. Não há escolha outra senão caminhar em frente, coluna reta, peito empinado, olhos fixos no horizonte, ainda que o coração permaneça parado na estação da nossa breve história desta encarnação. Mas o tempo, ele é sábio, e nos conduzirá um ao outro quando a urgência das nossas almas irromper o véu dele mesmo. Então, enfim, nada nem ninguém nos deterá. Pra todo o nosso sempre.
segunda-feira, abril 15, 2024
Irrevogável.
Diga-me: já estamos no inverno? Perdi um pouco a noção do tempo depois que a primavera nos abandonou. Se souberes, responda-me também: em que ponto da sua órbita a Terra estaria mesmo? Mais longe ou mais perto do sol?
Pergunto, pois os dias têm sido amenos. Já as noites têm me engolido com seu silêncio profundo e atroz. Deito-me e, dentre tantas certezas, me deparo com uma aparentemente irrisória, mas que traz paz e me faz adormecer: na grade das existências pretéritas, estamos desde sempre enredados às teias do destino. E isso é tão imutável quanto irrevogável.
Ainda assim, sigo derramando amor na paisagem bela da tua face que cruzou meus dias... como olvidar o fato de que ambos fomos resgatados dos nossos respectivos obtusos mares de viver? Se fomos presenteados com a dádiva do reencontro, por que permitimo-nos nos perder?
A outra certeza que me assola, a de que a força mais poderosa do universo nos une onde quer que estejamos, me acalenta. Estamos ligados pelos séculos sem fim, porque o amor é eterno e seus laços, indestrutíveis. Sigo reinventando uma forma de sobreviver por pura falta de opção. E se, em breve, não refizermos o nosso caminho, aceitarei tal agrura infligida a mim pelo teu livre-arbítrio. Não temo; eu vou te esperar na esquina mais florida e iluminada da nossa próxima existência...
domingo, maio 20, 2018
Domingo.
Querido Heitor,
terça-feira, maio 15, 2018
E se.
segunda-feira, maio 07, 2018
Assumindo.
Querido Heitor,
domingo, maio 06, 2018
Pra que saber?
Bom dia, Heitor!
Você me disse que nunca sofreu por amor e, na hora, eu fiquei me perguntando como alguém na sua idade poderia ter passado ileso pelas ciladas desse mocinho-bandido. Mas, pudera, Heitor. Você nunca amou. Pensa que ama. Você confunde bundas, bucetas e peitos com amor, e abre a boca com toda a irresponsabilidade da vida pra dizer que ama. Ama o caralho, Heitor! Você patina pelas pessoas, vive dos momentos que consegue proporcionar a elas e, consequentemente, a si. Você não sabe o que é ter água pelo pescoço, arriscar dar mais um passo, não dar pé, se afogar, morrer e ressuscitar. Você brinca no raso, às vezes desequilibra e toma um leve caldo, engole um pouco de água, tosse, levanta, nem troca o lençol e já joga outra em sua cama. Você é tão superficial quanto risca a pele das pessoas. O problema é quando você pega gente sem pele como eu. Nascida queimada em terceiro grau. Sensível e intensa de doer. Aí você risca a alma. E dor de alma só sente quem tem uma o que, definitivamente, não é o seu caso.
É bem verdade que vivi muitos bons momentos com você. Excelentes. Perfeitos. Não sobrepujam a dor que você me causou, mesmo essas duas coisas estando separadas pela mais tênue linha que possa existir nessa vida. Ou talvez porque, pra mim, sejam coisas miscíveis. O fato é que você não tatuou só meu corpo, mas também minha alma. E ao final, você também não fodeu só meu corpo; fodeu minha alma, e agora tá fodendo outra por aí. Você segue um padrão podre, Heitor. Fétido. Desprezível.
Portanto, pra que saber de mim? Pra que eu saber de você? Morremos um para o outro no dia em que você desfez nosso laço, e mortos desaparecem. Decompõem-se. Pra uns viram anjos, pra outros demônios, e pra outros nada. Não acredito em anjos e demônios, Heitor, sabes bem disso. Restou-te o nada.
Com nada,
Helena
quarta-feira, maio 02, 2018
O tempo.
Querido Heitor,
terça-feira, maio 01, 2018
Pronome possessivo.
Meu Heitor,
Ouso começar a carta de hoje te chamando como sempre te chamei. Várias vezes comentei o quão eu achava magnífica a força embutida em um pronome possessivo, lembra? Por isso, Heitor, começo assim, ainda que a realidade grite o contrário.
Faz tempo que não choro, Heitor. Mais de uma semana, sem derramar uma lágrima, acho. Não sei se é a dinâmica da vida trazendo as coisas pra os seus devidos lugares ou se é meu cinismo disfarçado que adora varrer meu lixo sentimental pra debaixo do tapete da minha existência. Se a segunda opção estiver correta, sinto dizer, estou fudida. Mas, de fato, desde que optei por fingir que você já não existe, fiquei mais forte. Ou seria menos fraca? Não sei bem. Optei por te matar para poder seguir com o mínimo de paz até que o sentimento que ainda tenho por ti se esvaia por completo e as lembranças parem de me sufocar. Porque isso vai acontecer, Heitor, mais cedo ou mais tarde.
As evitações diárias que crio para poder te manter abaixo de sete palmos de terra, entretanto, não respeitam o sono. Eu não deveria, talvez, te dizer isso, Heitor, mas quando eu sonho com você o meu dia rui e ao mesmo tempo tua lembrança me inaugura por minuto e por completo. Paradoxo e intenso, não? Como minha vida todinha.
Vou ficando por aqui, porque o sono já me entorpece. Imagino que esteja se perguntando se voltei para o Rivotril que você tanto odiava, mas querido, me compreenda: por hora é necessário e contundente.
segunda-feira, abril 30, 2018
A queda.
Heitor,
Você, Heitor, como um ser invisível, entra e sai sem o mínimo de empatia no jogo da vida das pessoas. Permanece intacto. Aparentemente, vencedor. Passeia pelos destroços, chuta ainda algumas pedrinhas, arrisca um sorriso amarelo e insosso, acena a mão. Coletes à prova de bala, pra quê? Nada te atinge, nem a minha dor, nem a indignação da platéia, nem a mágoa da concorrência. Ileso e de consciência de pluma, você vira as costas e some agarrado com o troféu à tiracolo: já não mora mais ali, és apenas um curioso expectador.
domingo, abril 29, 2018
Sobre.
Caro Heitor,
Essa era eu. Sempre me desculpando pela gota do café que eu derramava na estante, pela toalha que eu esquecia de pôr no varal pra secar, pela sua cueca que eu esquecia de lavar, pelo computador que eu esquecia de carregar. Mas, por que mesmo tanto perdão sem culpa efetiva? Na verdade, se você pudesse sentir o quanto tudo isso que você me fez passar dói, quem iria pedir desculpas seria você. De joelhos.
sábado, abril 28, 2018
Finish.
(Mari Teixeira)
sexta-feira, abril 27, 2018
Idos Janeiros.
quinta-feira, abril 26, 2018
Sim e não.
quarta-feira, abril 25, 2018
Nunca.
terça-feira, abril 24, 2018
Mais que tudo.
segunda-feira, abril 23, 2018
Passion.
domingo, abril 22, 2018
Frio.
quinta-feira, abril 19, 2018
Sobre vulcões.
quarta-feira, abril 18, 2018
Eu queria que fosse você.
Heitor,
Com o amor de sempre,
Helena
terça-feira, abril 17, 2018
Balança.
(Mari Teixeira)
segunda-feira, abril 16, 2018
A vida é tão rara.
(Mari Teixeira)
sexta-feira, abril 13, 2018
Paliativos.
Noite passada eu saí com uma amiga. Se eu continuasse naquela cama, iria explodir o quarteirão inteiro, e eu sei, os vizinhos não têm culpa das minhas desilusões amorosas, então, achei mais justo implodir tudo aquilo em meio a um bom papo, uma companhia agradável, um ambiente legal e algumas cervejas puro malte. Enfim, eu maquiei a cara, o ego e os sentimentos, coloquei uma máscara dourada na dor, um salto 11 nos pés, me transportei para outra dimensão e me pus a atuar da forma mais tosca e vagabunda que uma genuína pisciana poderia fazê-lo: pessimamente mal.
Bêbada,
Helena
quinta-feira, abril 12, 2018
É você.
quarta-feira, abril 11, 2018
Um caos.
Voltei a beber depois que você me deixou, acredita? Ando trocando o dia pela noite também. Há dias que nem o Rivotril pode com a saudade. Provei até de um cigarro esses dias - e odiei. Outro dia um amigo me disse que perdi o filtro pra determinadas coisas só porque a vizinha morreu e além de eu não ficar triste eu disse que não fiquei triste. Era uma daquelas vizinhas fofoqueiras que vivia pra dar conta da minha vida, Heitor. Fiquei pensando: será que perdi mesmo? Meu cérebro não sabe responder, ele só entende que eu perdi você. Deu medo. Imagina, você bem sabe, que eu já sou sincera, e viver em sociedade sem o mínimo de censura é suicídio moral na certa. Mas acho que não é isso, não. Acho que eu estou tão ocupada com minha tristeza, minha dor, minha perda, meu luto, que não consigo enxergar o do outro. Sei lá, estágios de dor aguda sempre me maltratam muito e é justamente aí que eu extremizo e me vandalizo. Ser 8 ou 80 dói como ter uma pedra no rim.
No táxi, a caminho do psiquiatra, eu pensava no quanto eu não consigo te odiar mas me odeio todos os dias por essa incapacidade latente. Tenho andado sempre em linha reta, olhos firmes no horizonte, pois o medo de reviver aquela cena do restaurante me assalta a cada segundo.
Entretanto, sei que a vida continua. Eu tenho muito que fazer e concluir antes que junho aponte no calendário porque, depois disso, o mundo me espera.
Com dores lancinantes no peito,
Helena